Ceará

Eleições / Ex-Tesoureiro do PROS afirma que Ciro participava de esquema de propinas no CE

Leia trechos da denúncia. Segundo Niomar Calazans, nada era feito ou tratado no Estado, sem conhecimento do presidenciável.

Em entrevista exclusiva à revista VEJA, o ex-tesoureiro conta que o esquema de extorsão era usado por Ciro e Cid Gomes e seu grupo político para financiar campanhas eleitorais.

No Ceará, um não faz nada sem o outro. Cid Gomes era governador por indicação do Ciro. Quando um está em um partido, o outro também está. Trabalham em conjunto”, denuncia o ex-tesoureiro do PROS. Ciro e Cid negam todas as acusações.

Confira trechos da entrevista de Niomar para a Veja.

Veja – A JBS diz que pagou propina ao grupo do ex-governador Cid Gomes e ao Pros para receber créditos do governo. Isso é verdade?

Niomar – É totalmente verdade. Os delatores disseram exatamente o que aconteceu.

Veja – Quem sabia disso?

Niomar – Todo mundo sabia. Eles fizeram uma jogada lá, e o dinheiro veio desse acerto com os empresários.

Veja – Ciro Gomes também sabia?

Niomar – O Ciro Gomes sabia e participava, com certeza.

Veja – Ele também sabia que seu irmão Cid pedira propina à JBS?

Niomar – No Ceará, um não faz nada sem o outro. Cid Gomes era governador por indicação do Ciro. Quando um está em um partido, o outro também está. Trabalham em conjunto.

Veja – O senhor já esteve com Ciro Gomes?

Niomar – Diversas vezes. No Ceará, estive duas vezes com ele. As outras foram em Brasília. Sempre que ia a Brasília, ele visitava a sede do Pros para tratar desses negócios.

Veja – Que negócios eram esses?

Niomar – Os negócios políticos e os negócios financeiros. Quem indicou o presidente do Pros no Ceará foi o Ciro. O indicado foi o Danilo Serpa. Danilo também era o chefe de gabinete do governo Cid. Através do Danilo, Ciro mandava no diretório estadual e cuidava da parte financeira.

Veja – Não era o senhor que cuidava das questões financeiras?

Niomar – Eu era o tesoureiro nacional. Mas era o Ciro Gomes que negociava a parte do dinheiro do Ceará. Os 20 milhões de reais que a JBS repassou em 2014 foram para o grupo de Ciro, que apoiou a candidatura do Camilo Santana. Nós só acompanhávamos. Ciro precisava do partido no estado para tocar a campanha do seu grupo político. O pessoal dele negociou esses créditos, dinheiro usado para eleger o grupo dele. E ainda houve o caso dos 2 milhões que Ciro teve de dar ao Euripedes Junior para poder controlar o Pros no Ceará.

Veja – Ciro comprou a legenda por 2 milhões?

Niomar – Os irmãos Gomes compraram o diretório cearense do Pros. Euripedes controlava o partido e “vendia” os diretórios estaduais. Quem quisesse ter o controle local da sigla precisava pagar. Foi assim em Minas Gerais, em Mato Grosso do Sul, no Ceará e em outros estados. Em 2014, o Euripedes chantageou o Ciro: “Se você não depositar 2 milhões de reais na minha conta, eu não libero o diretório”. Esse diálogo foi reproduzido pelo próprio Euripedes em uma de nossas reuniões.

Veja – O senhor estava na reunião?

Niomar – Sim, foi uma conversa minha com o Euripedes Junior. Logo depois dessa conversa, inclusive, o Danilo Serpa, presidente do Pros no Ceará, me ligou. O Danilo falou: “O Euripedes está fazendo chantagem, nos retirou a senha do partido”. O Danilo pediu que eu fizesse uma aproximação do Euripedes com o Ciro. Fui então falar com o Euripedes e ele disse: “Quem manda no partido sou eu, as coisas vão acontecer do meu jeito”.

Veja – E o que aconteceu?

Niomar – O Ciro veio a Brasília para negociar diretamente com o Euripedes.

Veja – O senhor estava nessa reunião do Ciro com o Euripedes?

Niomar – Eu estava na sede do partido, vi quando eles entraram, mas não participei. Foi uma reunião muito tensa.

Veja – E houve o pagamento?

Niomar – Eles receberam a autorização para comandar o diretório regional. O que você acha?

Veja – O senhor está disposto a depor oficialmente acusando Ciro Gomes de envolvimento no esquema?

Niomar – Meu compromisso é com a verdade. Aquilo que me for perguntado e de que eu tiver conhecimento, vou falar sem restrição alguma.